por Janaina Araújo — ou, como todos me conhecem, Jana.
Eu sou paulista, mas meu sangue é nordestino. Filha do seu Bernardo, piauiense, e da dona Núbia, cearense — dois sonhadores que, como tantos outros nordestinos, partiram em busca de melhores condições no Sudeste. Lá se encontraram, formaram uma família, e aqui estou eu: mulher, mãe, empreendedora e apaixonada por minhas raízes.
Desde os dois anos de idade, o Nordeste fazia parte da minha vida. Cresci passando férias em Parnaíba (PI), ouvindo histórias, sentindo o cheiro do mar, e aprendendo o valor da simplicidade. E sempre que dizia que o Piauí tinha praia, as pessoas se espantavam — como se fosse impossível imaginar belezas tão vastas nesse lugar ainda pouco explorado.
O tempo passou. Me formei em Turismo, trabalhei por mais de 16 anos na área de hotelaria em São Paulo, fui mãe solo, e até vivi um tempo fora do Brasil. Foi durante esse período fora que a ficha caiu: eu queria mais do que sobreviver ao ritmo frenético da cidade. Queria qualidade de vida. Queria reconexão. E foi assim que o Piauí voltou para mim — como um chamado.
Voltei para Parnaíba para trabalhar com hotelaria. Em um final de semana qualquer, fui visitar Barra Grande... e tudo mudou. Me apaixonei por aquele vilarejo mágico, onde o tempo passa mais devagar, o pôr do sol parece obra divina, e cada canto conta uma história.
Logo fui convidada para trabalhar em uma das pousadas mais tradicionais da região, e ali comecei minha jornada com Barra Grande. Três anos depois, ao deixar essa pousada, assumi sociedade em outro empreendimento local. Foi quando me aproximei ainda mais dos viajantes — e dos nativos.
Naquela época, Barra Grande tinha poucas opções formais de hospedagem, e nas datas mais procuradas — feriados e réveillons — era uma missão encontrar vaga. Muitos moradores locais alugavam suas próprias casas ou chalés improvisados para turistas. Para muitos, essa era uma forma de complementar a renda da pesca ou do seguro-defeso.
Um dia, caminhando pela praia no entardecer, tive um estalo. Olhei o mar e pensei: “E se eu conectasse essas duas pontas? As pessoas que procuram hospedagens autênticas, e os nativos que têm um espaço para oferecer, mas que não estão no digital?”
Assim nasceu o Hospedagem Barra Grande PI.
Em 30 dias, coloquei o site no ar. Mas o desafio de verdade começou ali. Ao conversar com os moradores, percebi receio, desconfiança. Muitos tinham tido experiências ruins com intermediários que não repassavam o valor justo, não cuidavam bem dos imóveis, ou simplesmente não os orientavam sobre seus direitos e deveres.
Então, comecei a fazer mais do que conectar hóspedes e anfitriões. Ofereci orientação, pequenas consultorias, dicas de melhorias nas casas, estratégias simples de acolhimento e hospitalidade. E com isso, ganhei a confiança da comunidade — e me tornei uma ponte.
Hoje, o projeto cresceu. Atendemos toda a região de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba, e já alcançamos o Ceará e Maranhão. O site reúne hospedagens, passeios, transfers, gastronomia, artesanato e experiências locais — tudo com foco em democratizar o turismo e garantir uma distribuição de renda mais justa.
Minha missão? Dar visibilidade a quem está fora dos grandes portais de turismo. Gerar impacto real na vida de pequenos parceiros. E mostrar que sim, é possível mudar sua vida aos 43 anos, sendo mulher, sendo mãe, sendo nordestina, sendo você mesma.
O turismo mudou minha vida. E eu acredito que pode mudar a de muitos outros também.